Em carta à torcida, o treinador lembrou da longa trajetória que trilhou antes de assumir o comando do time nacional
Por Notícias ao Minuto - Horas antes de anunciar os convocados da seleção brasileira para a Copa do Mundo, nesta segunda-feira (14), na sede da CBF, no Rio, o técnico Tite teve um longo depoimento, concedido ao site The Players Tribune, utilizado para personalidades do esporte mundial contarem suas histórias, divulgado nesta segunda-feira. No texto em primeira pessoa, o treinador lembrou da longa trajetória que trilhou antes de assumir o comando do time nacional, enfatizando como a Copa de 1970 lhe serviu como inspiração para que viesse a aceitar o desafio de assumir a seleção em um momento difícil das Eliminatórias do Mundial de 2018, logo após a demissão do técnico Dunga, em 2016.
© Pedro Martins / MoWA Press |
"Eu quero contar para vocês a história de um aparelho de rádio. Daqui a algumas horas, vou selecionar 23 jogadores para representar o Brasil na Copa do Mundo. Para mim, é uma honra e também uma grande responsabilidade, porque eu sei o quanto isso significa para os jogadores e para o País. Mas agora, antes de fazer as minhas escolhas, eu quero explicar o que esse trabalho significa para mim. Para tanto, eu preciso começar com a história do aparelho de rádio. Porque quando eu era criança, o rádio não era apenas uma caixa preta. Para mim, era mágica", afirmou Tite ao iniciar o depoimento.
O comandante lembrou que, na sua infância humilde na qual foi sustentado por pais batalhadores, não tinha uma TV em casa para acompanhar a Copa de 1970, realizada no México, onde a seleção de Pelé conquistou o tricampeonato mundial. Por isso, ele destacou como o rádio serviu para povoar a sua imaginação e os seus sonhos de menino, quando nem passava pela sua cabeça a ideia de um dia de se tornar técnico de futebol.
"Eu me lembro que durante a Copa do Mundo de 1970, o país inteiro se concentrava para focar nos jogos. Eu tinha 9 anos de idade, e a gente sentava na frente do rádio pra ouvir a magia do futebol. Era como se os jogos fossem uma história dramática sendo contada pra gente. É uma espécie de arte, na minha opinião. É como um quadro ou um grande romance. O Brasil estava no ataque, e o narrador pintava uma imagem em nossas mentes. Eu não quero dizer com isso que o futebol transmitido pela TV seja ruim. Mas é uma experiência muito diferente. Tem menos mistério, talvez. Menos imaginação. Com o rádio, a gente se segura em cada palavra", destacou Tite, para em seguida detalhar momentos marcantes para ele naquele Mundial.
"Eu me lembro de ouvir a semifinal contra o Uruguai muito vividamente. É parte da minha memória emocional, porque o Brasil estava perdendo o jogo na maior parte do primeiro tempo. Então eu sentei na frente do rádio, criando o gol da vitória na minha mente mais de uma vez. É claro, antes do final do primeiro tempo, a gente ouviu a emoção na voz do narrador aumentar, e a gente sabia que alguma coisa estava acontecendo: "Tostão
Clodoaldo
. Clodoaldoooooooooooooooo!!!!!!", completou o comandante, se referindo ao gol do empate da seleção, marcando então pelo volante da equipe comandada por Zagallo em um tempo no qual era muito raro um jogador desta posição ir ao ataque para ser decisivo em uma jogada ofensiva.
"E foi um momento tão inacreditável para mim, porque claro nós estávamos absorvidos com alegria, mas eu estava descrente. Eu não conseguia pintar o quadro. Porque do jeito que o narrador descreveu, o Tostão deu o passe e então o Clodoaldo veio e marcou o gol. Perguntei a mim mesmo: 'Como foi possível o Clodoaldo fazer o gol?' Porque ele era um volante de marcação. E eu perguntei a mim mesmo novamente: 'Como o Tostão saiu da área para dar o passe? Ele é atacante! Como é que isso pode funcionar?'", disse.
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