domingo, 29 de março de 2015

"Amadureci e sigo crescendo"

ENTREVISTA COM DAVI ROSSETO

29.03.2015

Paulistano, apaixonado por praia, o principal nome do Basquete Cearense abre o jogo sobre a chegada e adaptação na cidade

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Como você foi apresentado ao esporte e especificamente ao basquete?
Em 2003, quando tinha 10 anos, fui apresentado ao basquete. O pai de um amigo meu iria fazer um teste para uma seleção sub-11 e acabei sendo um dos escolhidos. Então, logo quando fui para o Hebraica (clube no qual passou na seletiva), me apaixonei pelo esporte e não larguei mais.
Mas você já tinha jogado pelo menos nas aulas de Educação Física?
O contato com a bola laranja tinha sido muito pouco. Como de costume jogávamos futsal nas aulas de educação física. Mas é impossível conhecer o basquete e não se apaixonar pelo esporte e foi o que aconteceu comigo.
Diferente do que acontece com a maioria dos atletas, o seu primeiro contato foi em um clube e não no colégio. Você viu vantagem nisso ou acha que não influenciou na sua trajetória?
Realmente é bem diferente. Normalmente o primeiro contato é no colégio. Porém, nos clubes, os profissionais são mais capacitados e também mais voltados ao basquete. Acredito que me ajudou bastante na minha evolução como profissional. Mas a essência é a mesma, que é respeitar os colegas e as hierarquias.
Nesse meio tempo você enfrentou algo que sempre é complicado, principalmente na fase da pré-adolescência, que foi a separação dos seus pais. Como você reagiu com essa fase na sua vida?
A separação dos meus pais foi em 2002, um ano antes de eu começar a jogar profissionalmente. Mas eu sempre levei muito 'de boa'. E até minha mãe fala hoje que eu consegui sempre levar com tranquilidade por causa do basquete e acredito que sim. Porque sempre tive bons técnicos que eram como uma figura paterna para mim.
E hoje, como é a sua relação com seus pais?
Graças a Deus sempre muito boa. Tenho uma excelente relação com os dois e também com meus irmãos. A Francine de 25 anos estuda Medicina. E também o Vitor, que agora está com 4 anos, e é meu irmão apenas por parte de pai.
Após 1 ano no Hebraica, você foi para o Círculo Militar e posteriormente para o Pinheiros, clube que ficou durante 7 anos. Você entrou adolescente e saiu adulto. Me conta um pouco dessa fase?
Foi exatamente isso, viu? (Risos). Eu passei toda aquela fase da 'aborrecência' por lá (gargalhada). Vou te falar que foi uma fase maravilhosa. O Pinheiro é um clube muito organizado e me ensinou muito sobre disciplina. Logo quando entrei lá, eles tinham como principal foco formar atletas. Eles possuem uma estrutura grande e não dependem de ter um patrocinador para continuar na próxima temporada. Sorte de quem pode passar por ele e pelo Minas Tênis Clube (outra equipe também formadora de atletas no Brasil).
Mas porque você saiu de lá?
Olha, como te disse. No início, o principal do Pinheiros era formar atletas. Hoje é diferente. Eles querem lutar por títulos. E, nas últimas duas temporadas, eu sofri muito com isso.
Me explica melhor o motivo desse sofrimento?
Por querer lutar por campeonatos, eles contrataram mais jogadores para o time de basquete e acabou que a concorrência foi desleal comigo. Era muito jovem e começaram a chegar excelentes jogadores e eu não consegui acompanhar toda essa evolução.
Foi nesse período que surgiu o convite para o Basquete Cearense?
Foi. O Bial (Alberto Bial - técnico da equipe profissional do Basquete Cearense) disse que tinha visto eu jogando no Pinheiros e falou com o diretor do clube. Ele sabia que eu estava insatisfeito no clube e acabou me negociando. E eu acreditei no projeto do Bial.
Você conhecia Fortaleza, sabia o que te esperava por aqui?
Eu não sabia de nada. Nunca tinha vindo a Fortaleza. O lugar mais próximo que tinha chegado daqui, tinha sido Natal (Capital do Rio Grande do Norte). Na verdade, todos nós viemos arriscar por aqui, foi muito no escuro, mas arrisquei.
E se não desse certo, você já tinha um plano B?
Pensei assim: tenho 20 anos e idade para recomeçar. Se não der certo, eu volto para São Paulo e vou correr atrás novamente, mas a história foi diferente. Graças a Deus!
A adaptação foi tranquila?
De jeito nenhum. Não foi fácil. (Pausa e um olhar para a varanda, que tem a vista para o mar da praia do Mucuripe). Eu tive que aprender a ser responsável. Foram muitas fórmulas para tudo não se tornar uma tragédia. Cidade que não conhecia, que não tinha basquete, longe da família, amigos e acabei me perdendo um pouco nisso.
Como você define 'se perder'?
Aqui é uma cidade que todos os dias, se você quiser, tem lugares para sair. Então, ia para muitas baladas, conhecia muitas garotas e não vivia uma vida exemplar de atleta. E isso afetou dentro de quadra. A primeira parte da temporada de estreia do Basquete Cearense eu fui abaixo do esperado. Hoje, estou bem diferente.
O cearense tem um jeito bem peculiar. Você estranhou isso ou te incomodou em algum momento?
Eu estranhei sim. Foi um choque cultural. Logo que cheguei presenciava algumas brincadeiras que, vou te falar (pedindo desculpas) eu achava que era falta de educação. Mas fui conhecendo mais as pessoas e vi que é normal e agora entendo. Mas nunca chegou a incomodar, foi só um estranhamento.
Hoje, você é um dos atletas mais dedicados do time, segundo o treinador Alberto Bial. Como aconteceu essa mudança?
Morava com um cara (André Goés, ex-jogador do Basquete Cearense) que é uma maturidade e uma sabedoria à frente do nosso tempo. Ele me ajudou bastante nessa transição. Indicou como eu deveria me portar, e eu fui assimilando isso e mudando meu comportamento. Na segunda parte da temporada, eu já tinha parado de sair para as baladas e o resultado foi refletido na quadra. Eu amadureci e continuo crescendo como pessoa e jogador.
Longe das quadras, o você que faz nas horas vagas?
Gosto de assistir muito basquete, ir à praia, ao cinema com minha namorada e viajar, adoro viajar.
Você tem alguma ajuda espiritual?
Sim. Sou espírita kardecista. Gosto muito dos princípios que Chico Xavier deixou. "Isso também passa", essa frase dele que levo para a vida. Todas as fases passam, as boas e as ruins.
Quem é a tua referência no basquete?
É o Nezinho (atual jogador do Limeira). Conviver com ele foi um orgulho. Além de excelente jogador, é uma ótima pessoa.Referência mesmo.
E o seu futuro o que você projeta? Uma Seleção brasileira?
Lógico que penso. Mas isso acontece de forma natural. Quero me dedicar bastante no clube e o que fizer nele vai acabar refletindo em uma possível chamada para a seleção.
Entrevista concedida à colaboradora Lyvia Rocha
FONTE: http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/jogada/amadureci-e-sigo-crescendo-1.1254913

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