sábado, 28 de março de 2015

Exemplos de coragem

COMPORTAMENTO

28.03.2015

Na batalha contra alguma doença, mulheres usam as redes sociais para enfrentar a nova condição e trocar experiências de maneira leve e divertida

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Maria Camila teve receio em dividir sua nova rotina, mas ficou surpresa com os comentários positivos
FOTO: ÉRIKA FONSECA/ REPRODUÇÃO
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A médica Catarina Aragon não aceitava o ganho de peso, mas manteve o amor próprio e não se escondeu
FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
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Paola Antonini
FOTO: REPRODUÇÃO/ INSTAGRAM
Quando recebeu o diagnóstico de câncer de mama, em novembro do ano passado, a cearense Maria Camila Gabriele, de 26 anos, logo tomou uma decisão: iria manter sua vida social a mais normal possível. Adepta das redes sociais, resolveu usar seu perfil no Instagram (@mariacamilaig) para contar aos amigos mais próximos sobre a sua nova condição, já que, logo depois de iniciar o tratamento, no dia 1º de dezembro, sabia que seu cabelo iria cair. No início, a jovem conta que ficou temerosa, pois não imaginava qual seria a reação de seus seguidores, mas teve uma boa surpresa.
"Acontece que logo quando coloquei que estava doente, recebi vários e-mails de pessoas nas mesmas condições, todas elas se solidarizando, tirando dúvidas, pedindo ajuda para ter força porque tinham familiares que estavam passando pela mesma situação", relembra ela.
Com mais de cinco mil admiradores, Maria Camila se emociona ao ver o carinho "gratuito" das pessoas. "Em um mundo em que todos são tão apressados e onde o egoísmo é tão presente, me comove ver alguém tirar parte do seu dia simplesmente pra dizer torço e oro por você. Esses comentários positivos me geram alegria, me mostram como o mundo está cheio de pessoas bacanas, como há gente do bem mundo afora que, sem nem mesmo te conhecer, vibram e oram por ti", pondera.
Ela conta que os recados que mais a emocionam são de familiares de pessoas que têm câncer perguntando como fazer para que o doente fique mais alegre. "Eles dizem que mostram minhas postagens aos parentes e isso me enche de alegria", garante.
Na batalha contra a doença, Maria Camila também faz parte de um grupo no WhatsApp chamado "Amigas do peito", de mulheres que, assim como ela, têm ou tiveram câncer de mama. "Trocamos nossa experiência de maneira leve e bem divertida. Tiramos dúvidas umas com as outras e, às vezes, simplesmente desabafamos", diz.
Formada em psicologia, ela conta que a formação foi essencial para enfrentar o diagnóstico. "Mas todo o conhecimento teórico me seria inútil sem os pilares auto-responsabilidade, paciência e fé".
Vaidade
A doença também não fez com que Maria Camila deixasse a vaidade de lado. Muito pelo contrário! O primeiro embate que ela travou consigo mesma foi durante a queda de cabelo, que começou há pouco, depois de 13 sessões de quimioterapia.
"Imagina sair do consultório médico sabendo que em pouco tempo você perderia as duas mamas e os cabelos? Então fui resolver o que podia: não era minha escolha ficar sem cabelo, mas eu poderia sim continuar sendo vaidosa e me cuidando. Então, comprei uma peruca linda (experimentei diversos modelos, me vi loura, de cabelo encaracolado, longo, curto) e também vários lenços, de diversas cores para combinar com todos os looks que eu quisesse".
A jovem também não parou de frequentar a academia. Inclusive, adora postar imagens de suas produções para praticar exercícios físicos, que têm consentimento de seu oncologista e nutricionista oncológico.
"Não tenho mais o fôlego e a força que possuía antes. A fadiga é um dos maiores sintomas de quem faz quimioterapia mas, mesmo assim, continuo a me exercitar diariamente e sei que isso ajuda tanto no tratamento como na minha autoestima, além de ser fundamental para ter uma vida saudável", observa.
Força e fé
Engana-se quem pensa que o desânimo não aparece durante a batalha de Camila. "Independente da atividade que eu faça para me colocar para cima (seja ler, ver filme, orar, entre outros pequenos prazeres) é preciso, antes de tudo, que tenha consciência da minha capacidade de restauração, a cabeça no lugar e fé que tudo isso vai passar", observa a psicóloga.
Batalha longa
O perfil da carioca Catarina Aragon (@catarinaaragon), que mora no Rio de Janeiro, também mostra a rotina de uma médica que luta contra uma série de complicações.
Tudo começou quando foi diagnosticada com asma grave, em 2013. Por conta de uma série de complicações - que incluiu uma sepse grave, insuficiência adrenal, choque séptico, a descoberta que é portadora da síndrome de retirada e que tem osteonecrose bilateral dos joelhos -, além de ter passado por quatro cirurgias, Catarina, de 27 anos, ainda lida com uma osteoporose grave pelo uso de altas doses de corticoide.
A iniciativa de dividir sua nova "rotina" com os seguidores (hoje ela conta com mais seis mil) não foi uma ideia premeditada.
"Estava ainda no CTI, já conseguia mexer no celular, e comecei a falar sobre o que estava passando. Estava carente, precisava interagir com o mundo e isso me ajudava. No começo, fui criticada, inclusive pelo meu marido, que tinha medo de eu estar me expondo, mas depois ele entendeu e me apoiou, pois viu o quanto me fazia bem. Desde abril, nunca precisei usar medicamentos antidepressivos ou calmantes".
Os comentários positivos que recebe nas redes sociais e no site que mantém (catarinaaragon.Com.Br), onde conta com mais detalhes o que acontece em sua vida, são essenciais para o processo que a médica enfrenta. "Me ajuda a ver que tudo isso me tornou uma pessoa melhor e que a forma que escolhi para enfrentar os problemas motiva muitas pessoas", reitera.
Catarina lembra, inclusive, que conseguiu fazer várias amizades através da internet e se emociona ao se deparar com as histórias que chegam através de e-mails.
Em dezembro de 2014, ela passou por uma situação que virou notícia nacional após sentir na pele a falta de preparo de empresas para lidar com pessoas com necessidades especiais.
Com problemas de locomoção devido a osteoporose grave e a osteonecrose bilateral dos joelhos, a médica avisou com antecedência a uma companhia área que iria viajar e precisaria de uma cadeira de rodas. Mas não foi atendida. Ao chegar no local de destino, ela precisou ser carregada para sair da aeronave. Tudo foi documentado e divulgado pela imprensa.
"Foi uma situação vexatória e desde então não consegui viajar de avião. O bom de ter virado notícia é que mais pessoas estarão atentas para isso e se todos tentarem reivindicar seus direitos talvez essas empresas mudem a postura. Estou decepcionada em ver como os deficientes físicos são tratados, um grande absurdo e total falta de respeito".
Essencial
Para lidar com as adversidades do dia a dia, Catarina frisa a importância do marido, da família e de Deus. "Fé e pensamento positivo são coisas diferentes, apesar de muitos acharem que são sinônimos. Fé é a certeza que o que você acredita vai se cumprir", comenta.
Atualmente, apesar de se mostrar supervaidosa e dividir com os seguidores suas produções diárias, a médica confessa que nem sempre foi assim. No início, não aceitava o ganho de peso (devido às altas doses de corticoide) e a aparição de estrias. "Além disso, usei máscara durante um tempo e depois muleta e isso fazia que as pessoas me olhassem de uma forma diferente. Há muito preconceito, infelizmente", desabafa.
"Mas mesmo nas fases em que estava muito mudada, me vestia, maquiava, arrumava o cabelo e tirava fotos, pois sempre acreditei que a beleza verdadeira vem de dentro e essa, por mais mudada esteticamente, ninguém podia me tirar. Por isso, mesmo em uma forma física que não é padrão de beleza, me amava e não me escondia", confessa Catarina, que conta com a companhia de dois cachorrinhos nessa batalha.
"Quando fico sozinha, brinco muito com eles. Bartolomeu é um Lulu da Pomerânia muito charmoso e levado. Já a Frida é uma shitzu muito calma, uma verdadeira lady, super carinhosa. Eles me divertem e fazem o tempo passar muito mais rápido", completa a médica.
Superação
Era pra ser uma viagem para celebrar a virada do ano em Búzios, no Rio de Janeiro, mas um acidente mudou a vida de Paola Antonini completamente. Ao colocar a bagagem no veículo do namorado, ela foi atingida por um carro. A perna esquerda da modelo foi esmagada e teve que ser amputada acima do tornozelo. Aos 20 anos e focada no futuro que tem pela frente, Paola agradece por estar viva e compartilha em seu perfil do Instagram (@paola_antonini), com mais de 40 mil seguidores, os novos momentos de sua vida. Como qualquer garota de sua idade, há duas semanas, postou uma imagem no cinema ao lado do namorado, em que a prótese aparece e recebeu comentários positivos dos seguidores. As redes sociais também foram essenciais durante o processo de recuperação da mineira, que chegou a pedir doação de sangue através de sua conta. Em depoimento à revista "Glamour", garante que não sente mágoa de nada que aconteceu.
Jacqueline Nóbrega
Repórter
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE

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