segunda-feira, 15 de julho de 2019

Mais de 40 vídeos mostram prefeito cometendo abusos sexuais

Reportagem teve acesso a novas gravações feitas por José Hilson de Paiva, prefeito de Uruburetama, durante consultas em duas cidades. Nos vídeos, o ginecologista comete crime sexual contra, pelo menos, 17 mulheres
José Hilson, 70 anos, realiza atendimentos médicos
 em duas cidades do Interior do Ceará: Uruburetama
Cruz. Há vitimas nos dois locais Foto: Reprodução
"Desde quando eu era novinha, quando eu ia me consultar com ele, com minha mãe, eu tinha 14 anos, eu entrava no consultório, ele sempre trancava a porta e mandava a gente tirar a roupa, pegava no seio, ficava pegando no corpo da gente”.

Essa é a descrição de uma consulta de rotina realizada pelo médico ginecologista e clínico geral José Hilson de Paiva, 70 anos, atual prefeito de Uruburetama, a 110 quilômetros de Fortaleza. A vítima, que vai ter a identidade preservada, é apenas uma na lista que pode chegar a dezenas de mulheres. E o ato abusivo é apenas um na sequência de tratamentos criminosos aos quais o homem submeteu pacientes ao longo de, pelo menos, 30 anos. O médico continua atendendo no consultório particular de Uruburetama. No site do Conselho Federal de Medicina (CFM), o registro profissional aparece com “situação regular”.

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Os crimes foram gravados pelo próprio médico. O Sistema Verdes Mares teve acesso a 63 vídeos, feitos entre 2009 e 2012 com, pelo menos, 23 mulheres, além de dezenas de fotos de partes íntimas de pacientes tiradas pelo ginecologista durante exames em Uruburetama e Cruz. Dessas, pelo menos 17 foram claramente abusadas. A reportagem ouviu seis vítimas nas duas cidades e teve acesso a relatos de Boletins de Ocorrência.

Em 46 gravações, José Hilson realiza atendimentos invasivos e com clara conotação sexual. Um dos vídeos mostra, inclusive, imagens em VHS, o que deixa claro o quanto a prática era antiga. Em muitos casos, os abusos aconteciam sem que a paciente sequer percebesse a violência.

Em Uruburetama, o prefeito filmou mulheres no consultório particular dele, anexo à casa onde mora. Também gravou pacientes em atendimentos nos quartos da própria residência. Já em Cruz, onde trabalhou como clínico e cirurgião geral, entre 2007 e 2013, filmou os abusos no Centro de Saúde do município. Como procedimento padrão, José Hilson costuma pedir às pacientes para ficarem nuas.

“Quando entrei, mandou tirar a roupa, fiquei nua”, relata outra vítima. “Eu falava que tinha vergonha e ele dizia ‘que besteira, eu sou médico”, conta outra mulher abusada. Nos vídeos, ele falava frases como “tire tudo por causa da sudorese, deixe de frescura”.

SECREÇÕES E APLICAÇÕES

O médico sempre posicionava a câmera de forma a deixar o contato nítido. Às vezes, tirava foto das mamas, glúteos e vagina das mulheres. Às pacientes, explicava que era para identificar “hormônio” e prevenir câncer. E dizia que, colocando as fotos no computador, teria como descobrir doenças.

Ele também chegava a botar a boca e sugar o seio das pacientes, afirmando estar procurando por “secreções”. E ia além. “O primeiro procedimento que eu achei estranho foi ele usar um canudo e chupar nos meus peitos”, relata uma das vítimas.

Nos vídeos, José Hilson explica, ainda, que as pacientes têm “muita irritação” ou “muita inflamação” ou que o “útero ‘tá’ todo virado”. Como tratamento, passa de 10 a 15 sessões de aplicação de gel na vagina ou no ânus. “Doutor, e meu esposo? Você orienta ele?”, uma das vítimas pediu. “Não, bebê, tem que ser você”, respondeu ele. 

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