segunda-feira, 4 de abril de 2016

Privilegiados da Misericórdia Divina: Primeira missa na ocupação Alto da Paz

PARÓQUIA DE ARACOIABA

      
Domingo da Misericórdia no Ano da Misericórdia. Um dia chuvoso como esse não tem sido tão comum nos últimos cinco anos. Na Comunidade do Alto da Paz um pequeno grupo de pessoas, sentadas nos bancos de carnaúba sobre forquilhas fincadas no chão, espera pela missa embaixo do abrigo de telha e lona preta. Ali são realizadas as reuniões da associação da Comunidade que vem lutando para se manter num pequeno pedaço de terra pertencente à prefeitura de Aracoiaba.

Ameaças de reintegração de posse (despejo e destruição das casas), acordo frustrado com a Prefeitura, processo correndo na Justiça e incerteza quanto ao futuro. Esse é o contexto em que vivem as cerca de 30 famílias que ocupam a pequena faixa de terra. O que eles querem é apenas um lugar onde possam construir suas casas e morar em paz. Mesmo sem a posse definitiva da terra, a comunidade já separou o local para a construção de uma capela dedicada a Santa Clara de Assis, padroeira da ocupação. Nos quintais ali perto já se tem plantado feijão, milho, maxixe. Se cria pato, galinha, cabra e até umas cabeças de gado.
      

Aos poucos a assembleia litúrgica vai se formando. Alguém logo traz  a imagem da padroeira e coloca sobre o altar juntamente com dois jarros de flores artificiais e outros tantos santos que demonstram a fé e devoção popular. O presidente da Associação se torna o animador do canto e tecladista. Outros que chegam vão preparando as leituras e logo o abrigo de telha e lona se transforma em Igreja e fica até pequeno para assembleia tão distinta. É nesse cenário de simplicidade, pobreza e esperança que a misericórdia divina é proclamada no salmo da liturgia: "Dai graças ao Senhor porque ele é bom. Eterna é a sua misericórdia". Aqui se pode ouvir os ecos da voz do papa Francisco na Bula de proclamação do Jubileu da Misericórdia: "Neste Ano Santo, poderemos fazer a experiência de abrir o coração (...) Quantas situações de precariedade e sofrimento presentes no mundo atual! Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos."
      
Na manhã chuvosa do domingo, a ocupação Alto da Paz parece ser o melhor lugar para se fazer a festa da misericórdia. E o ano da Misericórdia verdadeiramente "será uma maneira de acordar a nossa consciência, muitas vezes adormecida perante o drama da pobreza, e de entrar cada vez mais no coração do Evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia divina." (Papa Francisco, MV 15).





















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