sábado, 7 de maio de 2016

Pesquisadores devem levar pelo menos cinco anos para concluir vacina de Zika

Via Jornal do Brasil

Pesquisadores ainda devem demorar pelo menos cinco anos até disponibilizar uma vacina contra o Zika, vírus já disseminado em todos os estados brasileiros e em cerca de 40 países e territórios. A previsão é o vice-diretor do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, José Cerbino Neto. “Isso envolve o desenvolvimento de adjuvantes, de estratégias vacinais, de modelos experimentais para persistência e resistência da infecção. Além disso, o produto tem que estar em condição de testagem humana, e isso leva tempo, e também leva tempo os estudos de fase um, dois e três”, disse Cerbino Neto, em audiência pública na Câmara dos Deputados na quinta-feira (5). 
Para o desenvolvimento de um imunizante, são necessárias várias etapas, que vão desde a decisão de que tipo de tecnologia será usada até a comparação entre grupos que foram imunizados e que não foram. A primeira vacina contra a dengue, por exemplo, desenvolvida pelo laboratório francês Sanofi Pasteur, levou 20 anos para ser concluída. Mas os especialistas ressaltam que, enquanto a dengue tem quatro subtipos, o zika só tem um, o que facilitaria. “Temos um horizonte de pelo menos cinco anos, antes disso, acho que a gente não tem como ter uma resposta mais concreta sobre a eficácia dessa vacina”.

Na audiência, Cerbino Neto ressaltou que o vírus Zika se espalhou mais rapidamente do que a dengue e a chikungunya, vírus transmitidos pelo mesmo vetor, o Aedes aegypti. “A gente tem relatos da identificação do vírus em outros fluidos corporais, mas não temos como afirmar que há transmissão por essas outras vias nem qual o risco dessas transmissões”, relatou o especialista.
Também em audiência na Câmara dos Deputados nesta semana, a pesquisadora Adriana Melo, presidente do Instituto de Pesquisa Prof. Joaquim Amorim Neto (Ipesq), sediado em Campina Grande, Paraíba, disse que o vírus pode ser encontrado na saliva, mas não se sabe se é possível passar a doença para outra pessoa por esse meio. “Estamos coletando saliva no instituto para enviarmos para a UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro] para que seja analisada a possibilidade de esse fluido transmitir a doença”, disse a pesquisadora. A transmissão sexual já foi relatada em artigos científicos, mas ainda é objeto de estudos dos pesquisadores.
Outro alvo de pesquisa, segundo Cerbino Neto, é a proporção de infecções assintomáticas pelo vírus. Apesar de o Ministério da Saúde, desde o começo da epidemia, dizer que 80% das infecções são assintomáticas, o vice-diretor disse que ainda não se pode fazer esta afirmação com convicção. ”A gente não tem uma sorologia confiável, que permita fazer o critério sorológico e saber quantas pessoas se infectaram sem que tenham desenvolvido os sintomas”. A sorologia é um exame que permite saber se uma pessoa foi infectada por um vírus, mesmo depois de os sintomas desaparecerem.
Zika
Transmitido por um mosquito já bem conhecido dos brasileiros, o Aedes aegypti, o vírus Zika começou a circular no Brasil em 2014, mas teve os primeiros registros feitos pelo Ministério da Saúde em maio de 2015. O que se sabia sobre a doença, até o segundo semestre do ano passado, era que sua evolução costuma ser benigna e que os sintomas, geralmente erupção cutânea, fadiga, dores nas articulações e conjuntivite, além de febre baixa, eram mais leves do que os da dengue e da febre chikungunya, também transmitidas pelo mesmo mosquito.
Porém, em outubro de 2015, exame feito pela médica especialista em medicina fetal, Adriana Melo, descobriu a presença do vírus no líquido amniótico de um bebê com microcefalia. Em 28 de novembro, o Ministério da Saúde confirmou que, quando gestantes são infectadas pelo vírus, podem gerar crianças com microcefalia, uma malformação irreversível do cérebro que pode vir associada a danos mentais, visuais e auditivos. Pesquisadores confirmaram que a Síndrome de Guillain-Barré também pode ser ocasionada pelo Zika.
De acordo com o primeiro boletim da doença divulgado pelo Ministério da Saúde, em fevereiro e março deste ano foram notificados 91.387 casos prováveis de infecção por zikano país. A chegada do vírus ao Brasil elevou o número de nascimentos de crianças com microcefalia de 147, em 2014, para pelo menos 1.271 casos de outubro do ano passado a 30 de abril deste ano.

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